A inserção da tecnologia no Direito vem provocando uma série de mudanças. Nessa realidade e futuro em construção, os profissionais enfrentam o desafio de assumir papéis diferentes do usual, utilizando o melhor uso da tecnologia da informação para potencializar suas características humanas. O desenvolvimento desses profissionais exige novas competências por meio de capacitação técnica para melhor se posicionarem e aproveitarem o futuro tecnológico do Direito.
Com mais avanços, principalmente o uso de inteligência artificial e algoritmos preditivos, os escritórios de advocacia norte-americanos já contam com “assistentes digitais” que “confiam” a tarefa de buscar de forma inteligente documentos, opiniões e casos. Essa realidade internacional não é tão remota quanto se imagina no contexto brasileiro. Por aqui temos a Sapiens, da Advocacia-Geral da União (AGU), auxiliar que elabora a petição em pedidos reiterados; Alice, Sofia e Mônica, do Tribunal de Contas da União (TCU), robôs que analisam desvios de licitações e evidências, apontando os erros do auditor, sugerindo correlações, bem como outras soluções tecnológicas já em uso pelo judiciário.
É indiscutível que os sistemas de inteligência artificial aplicados ao Direito trazem diversas facilidades. No entanto, não podemos dispensar a observância aos preceitos que garantam a imparcialidade do juiz, a igualdade de acesso à justiça, o direito a um processo justo e a boa administração da justiça. É fundamental que o uso da inteligência artificial seja acompanhado da observância de princípios éticos, particularmente transparência judiciária, valores humanos, privacidade pessoal e liberdade.
A aplicação da inteligência artificial nos tribunais trouxe uma abordagem judicial mais direta, a democratização do Direito, a avaliação da real possibilidade de sucesso da demanda e a disrupção do monopólio da mediação. Por outro lado, temos os seus riscos, como o conformismo entre os juízes, com consequente congelamento da jurisprudência e a factualização do Direito.
Outro desafio é a falta de compatibilidade entre os sistemas eletrônicos diferentes nos tribunais. Há importantes desafios técnicos para o desenvolvimento da inteligência artificial nos tribunais para atingirmos todos os princípios já elencados e termos uma melhor prestação dos serviços. Para isso, o ideal é que todos os sistemas interajam de forma íntegra.
Também não podemos esquecer o direito do futuro, o chamado Direito 5.0. A sociedade e a advocacia 4.0 são fases totalmente voltadas para o uso de tecnologias com foco em automação. Dessa forma, se mostraram como inovações importantes. No entanto, deixam de lado um fator de suma importância em qualquer nicho da sociedade: o ser humano.
Já o Direito 5.0 tem como foco total o ser humano com as suas necessidades e habilidades próprias, chamadas soft skills, em um contexto de paradigmas próprios de um mundo digital, relacionados à resolução de problemas, geração de valor, descentralização, diversidade, sustentabilidade e desenvolvimento harmônico, dentre outros.
Isso quer dizer que o velho formato de Direito, que era conservador, com estruturas hierárquicas verticais, formalistas e tradicionais, dá espaço a uma nova mentalidade. Em resumo, soft skills são todas as habilidades que não se encontram dentro de uma amplitude simplesmente técnica, mas estão relacionadas à maneira com que nos comunicamos, nos expressamos e colaboramos com o outro.
Enfim, sobreviverão os profissionais que se adaptarem mais rapidamente à nova realidade, pois estamos a cada dia habitando num mundo diferente do ontem, onde a competência de habilidades próprias e a facilidade de inserção no mundo tecnológico serão os principais diferenciais.